sábado, 31 de agosto de 2013

A alcatra e a perereca.




                                

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O hoje, depois de caminhar pela praia de Itacoatiara com “ Brutus”, um  labrador,  fui até o mercado maravista,  antigo “Leonel” para os que moram a mais tempo em Itaipu, para comprar bifes de alcatra para o almoço.  Detesto  ir comprar bifes: A uma porque não sei ver se a carne está ou não macia, A duas porque quando está dura a reclamação é geral, mais quando  esta macia, não passou da obrigação cumprida. Em fim lá fui eu comprar os bifes, cheguei no mercadinho e entrei na fila, parecia que todos pensaram na mesma coisa pois a fila estava imensa, ou por que  o Brasil já ultrapassou 200 milhões de habitantes, seja qual for o motivo demorou pra caramba, na minha vez fui logo perguntando tem  alcatra macia para bife? E o açogueiro   disse que não pois ainda estavam inteiras e que só mais tarde poderia haver um pedaço bom para bifes. Decidi ir embora após enfrentar   aquela fila de sábado às 11:30 da manhã. Pior que chegar em casa com bifes duros de alcatra era chegar sem os requisitados bifes. Mais o que fazer, levar sabendo que estavam duros não os levaria. Passei então pela gôndola das frutas e vi lindos abacaxis, resolvi levar um, quem sabe adoçava o pessoal lá em casa.  Estava selecionando a fruta, sempre olhando pro açougue na esperança de ver algum incauto comprar a primeira parte da alcatra, que segundo minha mulher é sempre dura, como ninguém pediu para cortar a tal peça de carne, estava  me dirigindo para o caixa, após escolher cuidadosamente dois abacaxi que pareciam os mais doces, por que senão a turma chia, quando  ouvi uma voz feminina dizer: “ que perereca linda”, achei muito estranho tal frase dita com ênfase e  em bom tom, em pleno mercado, achei, na minha mente poluída, que alguma mulher estivesse elogiando outra no mercado, sabem como a moda e os costumes são dinâmicos hoje em dia. Pensei, isto  não é possível e me dirigi ao caixa quando novamente outra voz repetiu a frase insólita: “ que perereca linda”. Desta vez me virei para olhar, qual minha surpresa; Uma  perereca de verdade  (anfíbio, diga-se logo para evitar qualquer mal entendido) estava grudada na caixa de verduras, e todo mundo a dizer que perereca linda. Dando azo a minha veia ecológica, até porque ninguém parecia disposto a salvar a linda perereca de um certeiro pisão caso saltasse da caixa de repolhos para o chão, fui até lá e sem cerimônia  meti a mão na perereca e a segurei pelas pernas traseiras e,  com a outra mão equilibrava a cesta com os abacaxis. Pronto virei atração do mercado, e agora vou fazer o que com essa  linda perereca que acabei de pegar;  Uma velhinha chegou a dizer terna “pronto perereca tá salva”.  Fazia um calor igual ao dos melhores dias de janeiro. E agora, me tornei o salvador de perereca,   fiquei dentro do mercado com aquela pequena perereca em minha  mão sem sabre o que fazer. Lembrei que tinha um pequeno rio ali perto, muito poluído pelo esgoto que nele jogam, diga-se de passagem,  mais era o único local possível de  salvação para a perereca. Resolvi que levaria o batráquio  até o rio a qualquer custo e o soltaria. Mais o que fazer com os abacaxis,  tão duramente escolhidos entre tantos que pareciam azedos: Ficar na fila do caixa pagar pelos abacaxis e só depois ir salvar a vida daquela linda perereca, não pareceu muito  ecológico, pois o dia estava muito quente e, a perereca que de regra é gelada, já estava quente e com cara de desidratada na minha mão. O dilema estava instaurado, não podia largar o abacaxi pois outros clientes, talvez outros clientes havidos por abacaxi doce poderia pegá-los, nem podia ficar na fila com uma perereca morrendo na mão. A solução foi esconder o abacaxi embaixo das  berinjelas, pois afinal, pensei, quem está querendo berinjelas, não se interessaria nos abacaxis caso os descobrissem sob as berinjelas. Sai apressado do mercado com a perereca desmilinguida na mão,  ao sair com algo na mão sem passar pelo caixa algumas pessoas fizeram cara de reprovação, e antes de ser interpelado por algum paladino da moral e bons costumes,  mostrei que era uma perereca, já com cara de defunta, fui então liberado pelos  olhares desconfiados e desinformados da massa ;Tomei rumo apressado em direção ao rio(zinho) do maravista,  desci as escadas e quando ia colocar a perereca próxima a uma mureta da ponte, vi que alguns calangos(esses pequenos lagartos ) ficaram interessados na operação salvamento da perereca, temendo que após toda a minha estratégia para salvar a linda perereca, esta fosse acabar como banque de sábado para os calangos da mureta do rio. Então tive que descer mais ainda as escadas até perto da “água”, quase cai dentro daquelas águas negras e fétidas, mais afinal galguei uma das margens, onde finalmente restitui a liberdade, sob um pé de mamona, a linda perereca.  Só ai vi que minha mão estava coberta por um muco, provavelmente expelido pela   pele da perereca, fiquei pensado naquelas  reportegens de vida animal da national geografic, que mostram venenos exóticos, e dentre eles de algumas pererecas,os quais  podem até matar.  Tive a pulsão de lavar a mão no rio, mais o que pode ser pior: arriscar ser aquela  perereca venenosa ou ter a certeza de me contaminar com aquele esgoto em que se transformou o rio que passa no Maravista. Preferi  ficar com orisco do muco da perereca ser venenoso. Sai do rio e atravessei em direção ao posto Ipiranga do outro lado da estrada,  e finalmente me livrei de qualquer reminiscência daquela linda perereca, lavando a mão em água corrente e abundante.
Voltei ao mercado para pegar os abacaxis, era questão de honra, pelo menos levaria  aquela doce e  espinhenta fruta para casa, minimizando os impactos negativos de não ter conseguido cumprir a missão de comprar bifes macios de alcatra. Quando entrei no mercado e me dirigia até a gôndola  de legumes, afim de escavar a pilha de berinjelas e resgatar os soterrados abacaxis, Qual minha surpresa quando o açougueiro me chamou, talvez em agradecimento por eu  ter salvo aquela linda perereca,  e me disse: “ tem um ótimo pedaço de alcatra para bifes”,  Incontinenti  mandei-lhe cortar toda a peça em bifes. Trouxe-os, bem como os abacaxis, triunfante para casa, onde foram preparados, enquanto contavam a minha samaritana façanha de salvar a linda perereca.
POIS BEM:
Entre mortos e feridos todos morreram; Os bifes estavam duros e os abacaxis  azedos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!